Atingidos pela maior seca das últimas décadas, municípios do sertão nordestino lideram os piores índices de desenvolvimento humano e renda do país. Com poucas exceções --de algumas cidades banhadas pelo rio São Francisco e que recebem royalties do governo federal pelo uso da água--, a pobreza e a falta de oportunidade são marcas registradas da região. O Nordeste já tem mais de 910 municípios em emergência.
De acordo com o último Atlas do Desenvolvimento Humano, feito pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), em 2000, das quatro cidades com menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país, três estão na lista de municípios em emergência pela seca e convivem com as estiagens.
A cidade com menor IDH do país é Manari (PE), com índice de 0,467 –o país teve média de 0,649 no mesmo período. Outras duas cidades nordestinas, Traipu (AL) e Guaribas (PI), também estão no quarteto das piores em desenvolvimento humano –com 0,479 cada uma. Completa o ranking a cidade de Jordão, no Acre, com 0,475 (veja aqui a lista completa).
A cidade com menor IDH do país é Manari (PE), com índice de 0,467 –o país teve média de 0,649 no mesmo período. Outras duas cidades nordestinas, Traipu (AL) e Guaribas (PI), também estão no quarteto das piores em desenvolvimento humano –com 0,479 cada uma. Completa o ranking a cidade de Jordão, no Acre, com 0,475 (veja aqui a lista completa).
O IDH varia de 0 a 1 (quanto mais próximo de 1, maior o nível de desenvolvimento humano) e engloba três aspectos: conhecimento (medido por indicadores de educação), saúde (medida pela longevidade) e padrão de vida digno (medido pela renda).
A situação também é ruim quando se considera o PIB (Produto Interno Bruto) per capita de algumas cidades nordestinas. Em Tacaratu (PE), o índice não passa de R$ 3.183, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2009 –neste ano, a média do país foi R$ 16.917.
“Vendi os oito bodes que tinha para comprar comida, há pouco mais de um mês, mas já acabou o dinheiro. Vendi muito barato”, contou a moradora Rosana Inácia dos Santos, 42, durante visita do UOL à cidade do sertão pernambucano. Rosana faz redes para complementar a renda e garantir o sustento. “Mas só me pagam R$ 1,00 por cada varanda [de rede] que faço. Tem que trabalhar muito, o mês todo, para conseguir uns R$ 70.”
Em Santa Brígida (BA), a renda per capita não ultrapassa os R$ 3.382. “Tem muita gente indo para Paulo Afonso [cidade vizinha e referência na região do médio São Francisco], ou Salvador, ou outra cidade grande. Outra parte está indo para o Pará, onde estão sendo realizadas obras. A situação é complicada aqui por conta da falta de chuva e de perspectiva. A situação é ainda mais difícil para os jovens”, disse o secretário municipal de Infraestrutura, Alfredo Ribeiro Neto.
Em Santa Brígida (BA), a renda per capita não ultrapassa os R$ 3.382. “Tem muita gente indo para Paulo Afonso [cidade vizinha e referência na região do médio São Francisco], ou Salvador, ou outra cidade grande. Outra parte está indo para o Pará, onde estão sendo realizadas obras. A situação é complicada aqui por conta da falta de chuva e de perspectiva. A situação é ainda mais difícil para os jovens”, disse o secretário municipal de Infraestrutura, Alfredo Ribeiro Neto.
Apesar de não se ouvir falar mais em fome, a palavra “necessidade” ainda é pronunciada por muitos sertanejos. “Meu vai pra rua [cidade] todo dia tentar arrumar trabalho, para não roubar o que é dos outros. O dinheirinho que ganho [proveniente do Bolsa Família] dá só para o sustento, pois agora tenho que comprar água para mim e para meus animais. Tenho comido todo dia, mas passo necessidade, não vou mentir. Tem dias em que não tem a mistura [carne ou similar que acompanha o tradicional arroz e feijão]”, diz a moradora da zona rural de Glória (BA), Maria São Pedro. A cidade também possui um dos menores PIB per capita do país, de R$ 3.437.
Análise
Segundo o doutor em economia popular e professor da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Cícero Péricles Carvalho, a seca é um elemento com forte peso na economia dos municípios, o que traz consigo pobreza às prefeituras e populações.
Segundo o doutor em economia popular e professor da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Cícero Péricles Carvalho, a seca é um elemento com forte peso na economia dos municípios, o que traz consigo pobreza às prefeituras e populações.
“As chuvas irregulares afetam o solo sertanejo, que é menos produtivo que os solos da zona da mata e do agreste. O déficit hídrico inviabiliza muitas culturas que somente produzem com a irrigação. A pecuária extensiva, o método ainda mais utilizado na área sertaneja, é muito vulnerável nos períodos de estiagens prolongadas. Essa pobreza no campo reflete-se nas localidades --pequenas e médias-- onde vive a maior parte da população da região e, claro, faz baixar o IDH no seu componente renda”, explicou.
Segundo Carvalho, a maioria da população dessas cidades depende da transferência de renda dos programas sociais para sobreviver. “Atualmente, a renda sem produção --que chega pelos cartões da Previdência Social e do Bolsa Família-- é mais significativa que a produzida na agricultura, pecuária e nas atividades de artesanato e indústria familiar. Nas pequenas localidades, os serviços e o comércio dependem dessas transferências, assim como as prefeituras que sobrevivem graças ao FPM [Fundo de Participação dos Municípios], transferências voluntárias, convênios e outros recursos públicos.”
Apesar de concordar que a seca é um instrumento que aumenta a pobreza, o professor de sociologia da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Paulo Decio de Arruda Mello, diz que não há, necessariamente, uma relação direta entre a miséria dos municípios e as estiagens. “Não é uma coisa automática. Podem existir locais com produção e desempenho econômicos elevados, mas que sejam atingidos pela seca. O importante é garantir a sustentabilidade dessas áreas, com a atuação na área ambiental.”
Para o sociólogo, o sertão do Nordeste acabou sendo alvo de políticas assistencialistas ao longo de décadas, o que impediu o desenvolvimento sustentável. “A verdade é que os governos não investiram como deveriam em obras estruturantes no semiárido brasileiro. Geralmente nessas áreas que se concentram agricultura familiar, que não são commodities ou exportadores. São áreas ocupadas por economias agrícolas de pouco valor agregado, que acabam relegadas a um segundo plano. A tendência é investir mais em setores mais dinâmicos”, analisa.
Fonte: UOL
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