blogueiro publica última entrevista concedida por Ronaldo Cunha Lima

Despedida: blogueiro publica última entrevista concedida por Ronaldo Cunha Lima
Em outubro do ano passado, o Blog do jornalista Marcos Alfredo obteve do poeta Ronaldo Cunha Lima uma entrevista inédita, a última que ele concedeu antes de embarcar na última batalha de sua vida, contra o câncer.Reproduzo, abaixo, a entrevista poética que ainda se encontra disponível na Seção Ping Pong deste blog.Nesta entrevsita-despedida, Ronaldo abre o coração, faz um balanço de sua vida e até se permite revelações preciosas. Caso você já tenha lido, vale a pena rever esta entrevista. Se ainda não tinha tido a oportunidade de lê-la, eis aqui mais uma oportunidade de conhecer mais um pouco do grande universo que foi Ronaldo Cunha Lima:

VEJA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA


O Blog lançou o desafio e ele topou: perguntas seriam feitas em forma de versos e as respostas, naturalmente, seguiriam o mesmo modelo. Ex-vereador, ex-deputado estadual, ex-prefeito de Campina Grande, ex-governador, ex-senador, ex-deputado federal....Ronaldo José da Cunha Lima, 75, já passou por todos esses cargos públicos, ao longo de 43 anos de carreira política.

Afastado da atividade pública por problemas de saúde, o guarabirense Ronaldo Cunha Lima tem orgulho de não ser “ex” numa atividade: poeta. Com vários livros lançados e sempre um no prelo, pois sua produção mental continua fervilhando o dia todo, Ronaldo de fato aceitou de bom grado essa nossa proposta inusitada de entrevista.

As respostas começaram a ser produzidas na semana passada, num momento especial à essa altura da vida do poeta: finalmente, após um longo suplício jurídico, seu filho e herdeiro político Cássio Cunha Lima teve a diplomação e posse determinadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Foi uma notícia que animou o velho espírito de um político que, na maior parte de sua vida, sempre se tornou na Paraíba referência de bom humor, irreverência, raciocínio rápido e alto astral.

Mas vamos à entrevista no padrão que Ronaldo Cunha Lima mais se compraz. Espero que o leitor também tenha prazer nesse nosso inusitado “Ping Pong”.

Pergunta: Blog de Marcos Alfredo

O vate faz que vê o invisível, Diz que toca, quando quer, o abstrato Tem o éter alugado em comodato, Superlota de idéia o incabível. Põe entrada no inadmissível, Diz que alma apaixonada furta cor, E que vê, sempre, o Anjo do Senhor Como a burra de Balaão, Profeta. Lhe pergunto: Assim como o poeta É todo homem público, fingidor?

Resposta: Ronaldo Cunha Lima

A vida nos exige o fingimento, Fazendo-nos atores, todo instante. O palco é passageiro, e tão constante, Como é constante o perpassar do vento! A depender do drama e do momento, O palhaço, o profeta, o pensador, O poeta, o político que for, Numa jura jurada só metade, Dependendo da dor d’uma verdade, De quando em vez se vão de “fingidor”!

Blog: O poder da auto-crítica só tem mérito Se promove o perfil do "suplicante" Toda conjectura nos garante Recorrer ao futuro do pretérito. Cada homem constrói o seu inquérito Da forma que julgar a preferida. Ao passado onde foi nossa guarida O presente guarnece com escolta. Se no tempo, possível fosse a volta O que reformaria em sua vida?

Ronaldo: A minha vida, escrita em livro aberto, Com poucos erros e plurais acertos, Embora me esmerasse nos consertos, Eu a vivi de coração aberto. Pedi perdão nos erros e, decerto, Apesar dos percalços e das dores, Aos meus acertos não pedi louvores. Mas se o tempo voltasse a minha estrada, Eu seria bem mais pra quem tem nada Seria bem mais fértil nos favores!

Blog: "As dores do mundo", de momento Citadas na canção fazem pensar Que a paixão as permitem suplantar, Mas levanto este questionamento: Dentre as tantas, a do arrependimento Da doença, que dos olhos rouba a cor, Do exílio, que causa dissabor Da mais temível "fera", solidão Da injustiça, que fere a razão, Qual delas constitui a maior dor?

Ronaldo: As dores que marcaram minha vida, Machucando de morte os dias meus, Em preces puras entreguei a Deus, Numa graça por Ele concedida. E depois dessa graça recebida, A minha vida a Deus tendo entregado, Liberto estou das dores do passado! Há uma dor, porém, que me entristece, Uma dor que resiste à minha prece: A dor maior de amar sem ser amado!

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