Por dia, pelo menos 11 mulheres abortam na Paraíba, muitas de forma espontânea, mas outras provocaram a situação, porque não planejaram a maternidade. No ano passado, 4.156 procedimentos médicos relacionados ao aborto foram realizados em unidades hospitalares do Estado que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS), segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES-PB). O número é considerado alto e uma ameaça à saúde da mulher. Para reduzir as ocorrências em todo o País, o Ministério da Saúde (MS) lançou, na última quarta-feira, um protocolo para agilizar a entrega da ‘pílula do dia seguinte’ na rede pública de saúde.
Com esse protocolo, para obter o remédio, não é mais preciso a apresentação da receita nem nas unidades públicas de saúde e nem na compra em farmácias. Além disso, adolescentes também poderão receber o contraceptivo sem autorização dos pais ou responsáveis (antes se exigia a presença deles). Mas conversar com o médico ainda é a orientação. Uma cartilha educativa está sendo disponibilizada para as pacientes incentivando a um planejamento reprodutivo.
Uso só em caso emergencial
A pílula do dia seguinte é um recurso que só deve ser usado quando ocorreu uma relação sexual sem proteção. Ela tem 80% de eficácia e pode ser tomada até 72h depois da relação. No entanto, médicos alertam que o uso frequente compromete e até mesmo atrapalha o ciclo menstrual.
Para a ginecologista Gilka Paiva, a pílula do dia seguinte só deve ser usada em situação emergencial. Esse medicamento, constituído pelo hormônio levonorgestrel que atua como contraceptivo, não é abortivo porque atua antes de ocorrer o processo de fecundação. Além disso, o hormônio presente também ajuda a segurar o feto, caso ocorra a gravidez. No entanto, a eficácia é de 80%, menor que a pílula comum que tem mais de 90% de proteção. Por conta disso, de cada 10 mulheres que usam esse método, duas acabam engravidando.
Essa pílula deve ser usada de imediato podendo ser tomada em dose única (dois comprimidos de uma vez só, sendo mais seguro) ou em duas doses a cada 12h. “Em relação às desvantagens é que esse medicamento não protege de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), atrasa o ciclo menstrual e tem baixa eficácia”, afirmou, acrescentando que tomar com frequência atrapalha e pode até contribuir com a gravidez. O uso desse remédio provoca retenção de líquidos, náuseas, vômitos e os seios ficam inchados.
Protocolo: “Foi um grande passo”
Em relação à entrega do medicamento ser feita de forma mais ágil pelo Ministério da Saúde, a ginecologista Gilka Paiva reafirmou a importância da ação. “Isso foi um grande passo dado porque esse remédio deve ser disponibilizado para a mulher que precisa de forma imediata”, ressaltou.
Remédio suprime a ovulação
Segundo o presidente do Comitê Estadual de Redução e Controle da Morte Materna, Eduardo Sérgio Sousa, esse tipo de pílula suprime a ovulação. Ele comentou que isso ocorre em três fases. A primeira age impedindo qualquer ação. A segunda altera a resposta do endométrio (membrana que reveste a parede uterina) e a última interfere a captação do espermatozóide. “O medicamento impede o encontro do óvulo com o espermatozóide, evitando assim a fecundação”, disse.
Ainda de acordo com o presidente do Comitê, três procedimentos médicos podem ser feitos em casos de aborto. Na rede pública de saúde, é feita a curetagem uterina obstrutiva, que ocorre quando o aborto ficou retido no útero, também pode ser feito a curetagem do aborto molar, onde se registrou a degeneração do óvulo, e a curetagem pós-aborto que pode ter sido por aborto espontâneo ou intencional. Na Paraíba, no ano passado, foram 38 de curetagem de molar e 4.118 do pós-aborto/puerperal.
Cartilhas vão orientar
Segundo informou a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde, o MS entregará cartilhas informativas sobre o uso do medicamento. Esse material servirá para orientar pacientes e médicos na utilização desse tipo de pílula.
Com esse protocolo, para obter o medicamento fica dispensada a apresentação da receita, assim como na compra em farmácias ou drogarias. Além disso, as mulheres menores de 18 anos também poderão receber a pílula sem a autorização dos pais ou responsáveis. Ao obter o medicamento na unidade de saúde, as pacientes passarão por um planejamento reprodutivo como forma de orientação.
Para aqueles casais que não desejam ter filhos, o Ministério da Saúde, por meio do programa Saúde da Mulher e das secretarias estaduais e municipais de saúde, fornece medicamentos anticoncepcionais, DIU e diafragmas aos estados.
RADIALISTA SEBASTIÃO BARBOSA
COM JORNAL CORREIO